terça-feira, 22 de maio de 2012

Auto da Barca do Inferno / de Gil Vicente .


[...]
Brízida — Hou lá da barca, hou lá!
Diabo — Quem chama?
Brízida — Brízida Vaz.
Diabo — E aguarda-me, rapaz?
Como nom vem ela já?
Companheiro — Diz que nom há-de vir cá  sem Joana de Valdês.
Diabo — Entrai vós, e remarês.

Brízida — Nom quero eu entrar lá.
Diabo — Que saboroso arrecear!
Brízida — No é essa barca que eu cato.
Diabo — E trazês vós muito fato?
Brízida — O que me convém levar.
Día.  Que é o que havês d'embarcar?
Brízida — Seiscentos virgos postiços  e três arcas de feitiços  que nom podem mais
levar.

Diabo — Ora ponde aqui o pé...
Brízida —  Hui! E eu vou para o Paraíso!
Diabo  — E quem te dixe a ti isso?
Brízida —  Lá hei de ir desta maré.

Anjo:— Eu não sei quem te cá traz...
Brízida —Peço-vo-lo de giolhos . Cuidais que trago piolhos . 

Anjo — Ora vai lá embarcar, não estás importunando.
Brízida —  Pois estou-vos eu contando o porque me haveis de levar.
Anjo — Não cures de importunar,  que não podes vir aqui.
Brízida — E que má hora eu servi,  pois não me há de aproveitar!..[...]




2 comentários:

  1. Os verdadeiros amigos não são os que alegremente nos seguem, mas sim os que apontam nossos erros, e aconteça o que acontecer, permanecem ao nosso lado!

    Maria Amélia, 1ºA

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir